2021-2030: A Década do Oceanos

São cerca de 360 milhões km² de área, profundidade média de aproximadamente 4.000 metros – com fossas submarinas que atingem 11.000 metros de profundidade –, o que nos dá um total de aproximadamente 1,4 bilhão de km³ de um gigantesco ecossistema chamado: OCEANO. Correspondendo a cerca de 71% da superfície da Terra, o oceano abriga desde o maior mamífero do mundo – a Baleia Azul – até microrganismos fitoplanctônicos, os quais são a base da cadeia alimentar local.

Possivelmente você consome, ou conhece alguém que consome peixes ou qualquer outro fruto do mar. Isso porque a pesca marinha, principalmente a artesanal, é responsável por extrair os recursos vivos presentes no oceano e os disponibilizar como alimento. Só por esse motivo, o oceano se torna responsável por proporcionar fonte de sustento para cerca de 120 milhões de pessoas direta e indiretamente ligadas a pesca.

Pensa que acaba ai? Nem de longe! Os oceanos estão intimamente ligados ao clima na Terra. As correntes oceânicas, resultado do sistema atmosférico de ventos que sopram sobre os oceanos, são responsáveis por distribuir o calor 

pelo planeta, levando o calor da região quente da linha do Equador para as proximidades dos frios polos da Terra. Isso, por exemplo, é o que permite que os invernos nos países nórdicos não sejam extremamente insuportáveis para a sobrevivência humana. Entretanto, nosso conhecimento sobre os oceanos está longe de estar à altura da importância deste ecossistema.
Além de não conhecermos o suficiente, temos que levar em conta que as atividades humanas estão modificando esse sistema. Todos os anos introduzimos nos oceanos cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos plásticos. O excesso de dióxido de carbono, emitido através da queima

de combustíveis fosseis, acidifica os oceanos e colabora na destruição dos recifes de corais, por exemplo. O aquecimento da atmosfera, devido à intensificação antropogênica do efeito estufa, também afeta os oceanos, já que além de causar o branqueamento dos corais, a elevação da temperatura média dos oceanos pode tornar algumas regiões inabitáveis para algumas espécies de peixes.

Levando em consideração todos esses pontos, e obviamente muitos outros, em 2016 a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou o que veio a ser, em tradução livre, a “1ª Avaliação Global Integrada dos Oceanos”. O documento faz parte de um processo de avaliação do estado do ambiente marinho, incluindo os aspectos socioeconômicos, iniciado em durante a conferência Rio+10, em 2002. Abordando diversos temas como os impactos das mudanças climáticas, segurança alimentar e gestão integrada das atividades humanas, esta avaliação serviu como base científica para o que veio a ser declarada pela ONU, em 2017, como a “Década Internacional da Oceanografia para o Desenvolvimento Sustentável”. O projeto foi proposto e será liderado pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI), integrada a UNESCO. O principal objetivo de escolher uma década inteira para os oceanos é o de desenvolver extensas atividades que alimentem o conhecimento científico sobre os oceanos, o que vem a ser a base para os tomadores de decisões. Logo, a iniciativa visa intensificar a cooperação internacional para estudos oceanográficos, promovendo o conhecimento científico, preservação da saúde dos oceanos e gestão dos recursos naturais.

Estimativas da COI indicam que o gasto médio de um país com pesquisas oceanográficas varia de 0,04 a 4% do total investido em pesquisa e desenvolvimento. Segundo a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, “uma das prioridades da Década será fortalecer e diversificar as fontes de financiamento, particularmente para os países insulares em desenvolvimento e para os países menos desenvolvidos”. Os planos de organização, divulgação e desenvolvimento de recursos humanos para o decênio se iniciaram em 2018, e seguirão até 2020 antes do início da década, em 2021.

A COI vêm participando da organização de diversos workshops, fóruns e demais eventos buscando a divulgação da iniciativa, dos projetos que já estão comprometidos com a Década e a capacitação de novos 

pesquisadores. Neste ano de 2020, a COI está atuando em parceria com a instituição portuguesa Centro de Comunicação dos Oceanos (CCOceanos) na realização de palestras online, gratuitas e em língua portuguesa. As atividades tiveram início no mês de abril e ocorrerão ao longo de 2020. A iniciativa tem data de início e término, mas certamente deixará um legado de conhecimento e de novos entusiastas da saúde e uso sustentável dos nossos oceanos.

 

Referências:

  • https://www.un.org/Depts/los/global_reporting/WOA_RegProcess.htm
  • ANTHONY, K.R.N.; KLINE, D.I.; DIAZ-PULIDO, G.; DOVE, S.; HOEGH-GULDBERG, O. 2008. Ocean acidification causes bleaching and productivity loss in coral reef builders. PNAS, 105 (45), 17442-17446. https://doi.org/10.1073/pnas.0804478105
  • ANTHONY, K.R.N.; MAYNARS, J.A.; DIAZ‐PULIDO, G.; MUMBY, P.J.; MARSHALL, P.A.; CAO, L.; HOEGH‐GULDBERG, O. (2011). Ocean acidification and warming will lower coral reef resilience.Global Change Biology, 17, 1798–1808. https://doi.org/10.1111/j.1365-2486.2010.02364.x
  • CALDEIRA, K. & WICKETT, M.E. 2003. Anthropogenic carbon and ocean pH. Nature, 425, 365. https://doi.org/10.1038/425365a
  • FAO. 2018. The State of World Fisheries and Aquaculture 2018 – Meeting the sustainable development goals. Rome.
  • UNESCO. A ciência que precisamos para o oceano que queremos: a Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030). Paris, 2019.

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